Quem vê este homem, sentado em um banco, frente ao Mosteiro de São Bento disputando a atenção dos passantes com camelôs, não imagina a trajetória que estes olhos, agora atentos na confecção da maquiagem, viveram por si só.
Oriundo de Pernambuco, Marcos escolheu Terranova como seu sobrenome artístico. Uma alusão a cidade que recebe todos os dias centenas de conterrâneos que, como ele, levam na bagagem mais do que amores e sonhos, trazem consigo a vontade de vencer.
Escolheu a arte como essência e é por ela que desperta todas as manhãs, em busca de um sorriso para transformar em pão.
O suor que escorre de seu rosto, misturado com a tinta de cor negra que realça os traços é o único movimento que se vê a olho nú. Lento e contínuo. Como é possível unir a arte da poesia com a imobilidade do concreto?
Divide o palco das ruas com outros tantos personagens. Moradores das calçadas que, de tão em casa, o acompanham em um diálogo sem falas, participações sem aplausos.
Sente-se realizado por produzir sua arte, mesmo perante o preconceito arredio que o vem incomodar. É preciso coração pulsante para compreender o amor de entregar sua vida ao outro. Ao público.
Marcos ontem foi um cangaceiro, hoje é árabe, e amanhã, se conseguir terminar a asa, será um anjo, aguardando o momento exato de voar, imóvel, pela arquitetura cinza e fria do centro da cidade.
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