terça-feira, 15 de novembro de 2011

Quando meu pé cruzou com o seu

Roberto sempre se incomodou com o tamanho do seu pé. Sonhava ter as mãos finas e a cútis clara como a neve que via nos filmes da TV. Era negro e por trás da pele retinta dos fortes músculos, um sangue doce e delicado corria em suas veias como bailarinas estonteantes em noite de estreia.
Do outro lado da cidade com três anos de diferença, para menos, vivia Bárbara que também não gostava do tamanho do seu pé, delicado demais para um corpo tão grande. Suas costas largas, pequenos pelos no peito e a voz rouca destoava das outras garotas da sua idade. Pensava que devia ser por isso que seu tio a violentava. Sentia raiva.

Um dia Roberto virou Suzane.

Um dia Bárbara virou Bruno, que virou Otávio (combinava mais).

Suzane usava megahair até a cintura, tinha seios fartos comprados à prestação e uma postura elegante que ninguém, nem o mais malandro da cidade diria que não era uma jovem mulher. Até abrir a boca.

Guardando a cara e a coragem no fundo da mala, Otávio saiu de casa. Foi morar em uma kitinete na Bela Vista com outros três amigos que como ele viviam na mesma situação: gostava de mulher e ponto.

Foi lá no Largo do Arouche em uma tarde de sábado que nossas duas histórias se cruzam. Do alto do seu salto 15, ao som do samba que vinha lá do boteco da Dona Tereza, Suzane dançava. Seus cabelos... Ahhhh, seus cabelos enrolados paravam o lugar e Otávio quando viu ficou alucinado com a mulata que fazendo manha, jogava um charme pra toda "plateia" alí presente.
O copo de cerveja e o cigarro balançavam ao som do batuque. Tremiam. Em sua mente fórmulas, truques e mandingas para chegar nela. Nessa hora até promessa pra São Jorge foi feita. A vontade era tanta de saber o nome da donzela e possuir a formosura mais linda da festa que o último gole da cerveja foi a coragem que faltava.
Não disse nada, apenas pegou sua mão. E esse olhar trocado, sem quê nem porquê despertou um amor que eles, de forma alguma nunca imaginariam que de lá sairia. 

Uma mulher no corpo de um homem e um homem na mente de uma mulher.

Tinha me esquecido


O primeiro filme que assisti com ele foi do Gerard Depardieu. Achei que isso marcaria para sempre o nosso romance que nunca saiu da primeira página ....