sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Força do Rádio


por Thatiane Ferrari

Vivemos em uma sociedade onde o apelo visual é muito forte e com um ritmo de vida tão acelerado que parar para escutar o outro muitas vezes é uma missão quase impossível. O rádio tem esta incrível façanha. A de inquietar e convidar o ouvinte a utilizar a sua mente, de forma que a partir da descrição de detalhes ele consiga imaginar de fato o acontecimento narrado, tendo o poder de criar uma visão mental e atingir essa incrível magia radiofônica.


Mas nem sempre foi assim, antes do surgimento do rádio a comunicação ainda era extremamente regional e simplista, ninguém sabia o que acontecia do outro lado do mundo. Hoje a filosofia do rádio é “pense globalmente, aja localmente" mas antigamente a curiosidade era tamanha em saber o que se passava além do que os jornais publicavam que quando o rádio chegou ao Brasil em 1922, mesmo sendo caro tornou-se objeto de desejo da elite da época, motivo pelo qual demorou se popularizar.
Não existia uma linguagem radiofônica, o que obrigava os locutores a lerem as notícias dos jornais impressos, muitas vezes gritando o título para diferenciar a manchete do conteúdo da notícia e de forma impessoal já que ele não tinha a vivência do fato.


Com a comercialização das rádios através de anúncios passou-se a valorizar mais os locutores, surgiram os programadores que organizavam os horários e programações e equipes fixas trazendo aos poucos a profissionalização às rádios.
Esta evolução nos trouxe o surgimento em 1941 do revolucionário Repórter Esso, o primeiro rádionoticiário do país que durante 27 anos cumpriu o dever de informar e noticiar os fatos através do slogan "testemunha ocular da história". Editores trouxeram uma nova forma de linguagem, produzindo um novo tipo de texto mais objetivo e dinâmico o que agradou muito o público. “O Repórter Esso, programa memorável ... recolhia a todos junto aos rádios receptores, não deixando ninguém nas ruas após o toque marcial de fanfarras e clarins, que era o seu prefixo” cita Maria Elvira Bonafita em seu livro “ História da Comunicação: Rádio e TV no Brasil.”


Nessa época o mercado de trabalho era restrito apenas para homens, por muitos acreditarem que mulheres não tinham credibilidade na voz o que acabou-se desmentindo durante os anos, já que as mulheres conquistaram seu espaço e fizeram seu nome na história do rádio, porém esse espaço continua reduzido pois apenas 10% das vozes no rádio são femininas.
Os anos se passaram e esse profissional também se modificou. Milton Jung em entrevista para o Clever People* diz: “Naquela época o rádio era único veículo ágil que havia, a televisão era estática ... hoje todas as mídias trabalham com notícias urgentes então a competição com o rádio é muito forte” fazendo um parâmetro entre o mercado de trabalho atual e o de 25 anos atrás, e completa “se o profissional de rádio não souber trabalhar com os dois conceitos básicos do processo de comunicação dentro deste cenário que é a agilidade e a precisão vão pagar muito caro por isso e o que há de mais caro na nossa carreira é a credibilidade” .


O público tornou-se mais exigente, mais interessado e espera de qualquer mídia a notícia em última hora . Com a evolução dos meios de comunicação a tendência também é cobrar ainda mais deste profissional que é mais do que um narrador de fatos, é uma testemunha participante dos acontecimentos em tempo real é o responsável pelo desenvolvimento do espírito crítico de toda uma população.
A força do rádio pode ser conferida em números, já que o Brasil é uma das maiores potencias radiofônicas do mundo, alcançando 96% de todo território nacional. A programação é projetada para 49.500 rádios em domicílios brasileiros, sendo a maior cobertura de todos os meios de comunicação e com um público estimado em 90 milhões de ouvintes. Existem hoje no Brasil 3.988 emissoras de rádio um cenário bastante positivo, conforme gráfico abaixo:

Fonte: Grupo de Mídia SP


O maior pólo mercadológico está na região Sudeste que possui 1.404 emissoras de rádio com a maior concentração de aparelhos domiciliares: 47 %. Só em São Paulo temos 657 emissoras de rádio entre AM e FM. Estudos apontam que o índice de ouvintes das rádios paulistanas é bem maior para a frequência FM, constituída em maior parte por programas de músicas e pequenos boletins jornalísticos, enquanto a frequência AM, geralmente especializada em jornalismo, é bem menor.


O rádio como outros meios de comunicação necessitam da publicidade para sobreviver e manter a sua programação no ar. Diante disso as emissoras trabalham ativamente em seu departamento comercial na captação de anúncios, trabalhando diretamente com agências e em alguns casos, formulando comerciais totalmente específicos para o rádio.
No mercado publicitário o Rádio teve a participação de 4% em verba segundo os índices de referência, uma fatia muito pequena mas que cresceu 17,6 % em relação ao ano anterior.



Share dos Meios

Fonte: Grupo de Mídia SP


O perfil do ouvinte de rádio na sua grande maioria são jovens de 20 à 29 anos que fazem parte da classe econômica C, uma classe economicamente consumista que requer uma atenção especial dos anunciantes.

O assunto da imprensa independente hoje em dia é pauta para muitos debates, já que a influência dos anunciantes perante aos veículos de comunicação passa pelo fato do anúncio ser a grande fonte de renda para as emissoras de rádio e uma notícia que seja desagradável para a imagem deste anúncio seria o fim de um contrato.
Diante deste assunto, muitos profissionais renomados divergem suas opiniões, José Mello Marques cita em entrevista ao Clever People a sua posição perante este fato “Raramente uma notícia contra anunciantes será divulgada por um veículo de comunicação que dependa economicamente da publicidade desse anunciante. Quem falar o contrário está mentindo.” Sobre os profissionais do mercado que praticam a idéia de liberdade de imprensa, Nello Marques diz que já viu anunciante pedir “a cabeça” de repórter ao dono da rádio.


Uma coisa é certa, o jornalismo radiofônico é totalmente dependente do mercado publicitário, o que influencia e muito o mercado de trabalho no rádio desde as contratações de equipes até produção de programas.





* Clever People é o grupo de estudos formado na Universidade Paulista para o curso de Comunicação Social.

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