segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crônica


Quando o coração silência

Cabelos brancos feito nuvens, bochechas rosa e mãos enrugadinhas. Dona Olga sempre foi ativa, italiana, falava alto e era forte como um touro. Mas a idade chegou e, com ela, as complicações físicas. Seu Genaro faleceu há 2 anos e ela tentava levar a vida como dava, porém depois que caiu no box do banheiro e quebrou o osso da bacia, essa tal vida já não era mais a mesma. Teve que deixar seu cantinho e ir morar na casa do único filho, dividindo o quarto com os dois netos já adultos. Naquela manhã, Dona Olga novamente acordou urinada, e por mais que tentasse esconder, sabia que a nora ficaria nervosa.


Depender de alguém para ir ao banheiro, tomar banho e comer... A idéia de ter voltado a ser uma criança a envergonhava.

A nora, quando viu no lençol a rodela amarela, ficou furiosa. Gritou que era a segunda vez na semana que era obrigada a lavar a roupa de cama da Dona Olga e perguntou o porquê que ela estava fazendo isso, como se fosse de propósito.

Decidiu que teria uma conversa séria com o marido e que uma decisão teria de ser tomada, afinal a mãe era dele e ela como nora não tinha que ter nenhuma responsabilidade sobre ela.

Dona Olga passou o dia quietinha na cadeira de rodas no quintal com o radinho no colo, esperando a chegada do filho

Ao chegar, Luís Gustavo ouviu as lamúrias da esposa e depois de discutir o destino da pobre senhora, decidiram que iriam colocar ela em um asilo e que o restante da aposentadoria serviria para fazer a tão esperada reforma na casa.

Sem pestanejar, a idosa foi para o asilo e lá permaneceu sempre olhando para a porta, esperando os sábados para receber a visita de seu filho. Esse dia nunca chegou.

E, então, por mistério ou patologia, ninguém sabe, Dona Olga nunca mais falou e o silêncio se fez presente no seu olhar cheio de rugas e traços de vida ...

2 comentários:

Monica Dinah disse...

Linda reportagem Thati, quando vejo que precisamos cada vez mais de leis para defender os idosos, quando deveríamos fazer isso por puro respeito, fico preocupada, o que será desses jovens que no futuro serão idosos desreipeitados por eles mesmos. Bjs

Marcelo Mariano Melo disse...

Serei um velhinho punk de moicano e olhar sedutor