quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Acessibilidade - Enfrentando Desafios

Por Thatiane Ferrari


Andando pelas ruas na correria do dia a dia, não percebemos a quantidade de empecilhos e armadilhas existentes em uma simples caminhada. Um buraco no meio da via, chama mais atenção que o da calçada e tudo que não nos afeta diretamente, não tem importância. A falta de fiscalização faz com que as pessoas se esqueçam que há 21 anos a Constituição Brasileira assegura através das Leis Federais nº 10.048/00 e 10.098/00 o direito à acessibilidade. A inclusão que a legislação prevê nos meios físicos é o acesso a informação, à comunicação e aos meios de transporte, ou seja, a grande eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. Porém, como garantir o direito para a geração de jovens com deficiência, em um país que ainda não proporciona o total acesso de ir e vir ?

O último Censo do IBGE revela que em São Paulo 0,72 % da população tem alguma deficiência física, como paraplégicos ( que não movimentam as pernas ), tetraplégicos ( que não mexem os quatro membros), hemiplégicos ( movimenta apenas um lado do corpo ), amputados, entre outros . É uma média de 416 mil pessoas que, apesar de ter a Constituição a seu favor, na prática enfrenta desafios. O que vemos na cidade é um crescimento desgovernado, um despreparo na arquitetura que não atende às necessidades da população com deficiência.

Um grande exemplo disso é o transporte público. São Paulo, de acordo com a SPTrans, tem em funcionamento 2.897 ônibus adaptados, 18 % da frota. Um número muito pequeno comparado com a quantidade de pessoas com deficiência que vive em nossa cidade.
O Metrô por sua vez, atende hoje uma média de 70 deficientes físicos por dia, tendo à disposição profissionais treinados para auxiliá-los até a plataforma. Segundo a assessoria de imprensa, esse número tende a crescer, pois até dezembro de 2010 todas as 55 estações do Metrô estarão totalmente acessíveis. A meta da atual gestão é dar autonomia a todas as pessoas que usam o sistema. Enquanto isso o que resta é esperar e andar até encontrar alguma estação acessível para fazer o embarque e o desembarque.
Para quem preza pelo conforto e praticidade, existe na cidade frotas de táxis acessíveis. Estes táxis são veículos totalmente adaptados para receber pessoas com deficiência. Os taxistas passam por um treinamento de 15 horas, onde são abordados temas como atendimento especial, manuseio de equipamentos e público alvo.
Segundo Nelson Lourenço, assessor de imprensa da Adetax ( Associação das Empresas de e Frota do Município de São Paulo),em agosto foram atendidas cerca de 1.100 chamadas, distribuídas em apenas 16 táxis acessíveis. E não adianta ter compromissos em cima da hora, pois em função da pequena frota é necessário agendar o serviço ou esperar o tempo médio de 45 minutos para o atendimento da chamada. O serviço tem as mesmas tarifas de um táxi comum: R$ 3,50 a bandeirada inicial e mais R$ 2,10 por km rodado e o cadeirante pode ir acompanhado por até 2 pessoas no veículo.

Táxis Acessíveis – Espera de 45 minuto


Outra forma de locomoção que cresce cada vez mais são os veículos adaptados. São cadastradas no Detran-SP mais de 90 auto-escolas exclusivas no atendimento à pessoas com deficiência física. “ Podemos dizer que a pessoa com deficiência dirige de forma mais segura que o condutor não deficiente por diversos fatores”, afirma Monica Cavenaghi, diretora da Cavenaghi, empresa especializada em adaptação veicular. “ Dizemos isso com base em estudos feitos por seguradoras, que dão descontos a esses clientes pelo fato deles apresentarem menos envolvimento em acidentes”, completou. Só no último mês de agosto foram adaptados 300 veículos, sendo que essa média abrange adaptações na própria direção do carro como embreagem computadorizada, freio manual e piloto automático e adaptações de transporte que são as plataformas equipadas com cintos de segurança especiais, aliando praticidade, comodidade e tecnologia. Os preços para as adaptações variam de R$ 150,00 até R$ 50.000,00, dependendo da solução.

Universitário do curso de jornalismo, Lucas Emanuel Ito, de 19 anos, frequenta a faculdade utilizando o Atende, serviço gratuito para transporte de porta em porta da Prefeitura da Cidade de São Paulo destinado para pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, com alto grau de dificuldade e dependência. Apesar da descrição do serviço, Lucas não é dependente e desenvolveu uma grande autonomia. Atleta paraolímpico, utiliza táxi adaptado para frequentar os treinos de natação e sair para shopping, cinemas e teatros, programas ideais para sua idade. Sobre o tempo de espera do meio de transporte adaptado na cidade, ele comenta: “ agora com os ônibus “piso baixo” está um pouco mais rápido, porém nas regiões periféricas de São Paulo ainda demora”.

Lucas Emanuel Ito - “ O deficiente quer estar no convívio social” .


A passos bem lentos, a prefeitura e o governo estão tentando realizar melhorias na vida das pessoas com deficiência, mas o que ainda vemos na cidade é a falta de fiscalização e o desrespeito da população em relação aos direitos destas pessoas. Thânia Christina Pontes é irmã de Andressa Pontes de 23 anos que tem múltipla deficiência. Para evitar sair, Andressa utiliza como fonte de tratamento a equoterapia em casa. Aos finais de semana, Thânia leva Andressa para passear em shoppings da cidade e mesmo sendo direito, as vagas de estacionamento para deficientes sempre estão ocupadas por pessoas sem consciência inclusiva.

Em uma entrevista com José Fernandes Júnior motorista de micro-ônibus adaptado na região da Zona Leste, percebemos que esse desrespeito faz com que as pessoas com deficiência evitem sair de casa. Segundo José, seu veículo transporta apenas 1 à 2 cadeirantes por semana. “Já teve uma vez que no horário de pico convidei algumas pessoas a se retirarem e esperarem o próximo ônibus, pois tinha no ponto uma moça com deficiência que trabalha aqui perto. Alguns olham com cara feia, mas essa é minha obrigação, “ afirma José, que tem seu micro-ônibus totalmente adaptado com espaço e plataforma para cadeiras de roda.

“ Enquanto a acessibilidade for uma obrigação, avançará devagar. A mentalidade das pessoas precisa mudar. Não precisaria de um elevador exclusivo para deficientes, por exemplo, se as pessoas dessem a preferência no elevador "normal" quando chegasse um deficiente. Esse discurso "é para o seu maior conforto", para mim é infundado, é uma forma de exclusão. O deficiente quer estar no convívio social,” desabafa Lucas.

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